Fonte: www.espacovital.com.br (27.07.10) As touradas, vistas por muitos espanhóis como um componente essencial de seu patrimônio cultural, podem sofrer seu maior golpe nesta quarta-feira (28) quando legisladores da Catalunha decidirão se elas devem ser banidas em sua região. Os valores de bem-estar dos animais defendidos por ativistas foram recentemente deixados em segundo plano por um debate sobre se as touradas, tão enraizadas na tradição espanhola, ainda têm lugar na Catalunha que busca sua independência. O debate sobre a identidade se intensificou depois de uma decisão polêmica do tribunal constitucional no mês passado sobre a carta de autonomia catalã que já havia sido aprovada por 5,5 milhões de eleitores da Catalunha, assim como pelo parlamento espanhol em 2006. Embora tenha endossado a maior parte do documento, o tribunal também irritou os nacionalistas catalães ao eliminar alguns de seus pontos, assim como a declaração legal de nação, provocando um imenso protesto em março em Barcelona. A decisão sobre as touradas vem antes das eleições regionais catalãs este ano, nas quais os partidos nacionalistas esperam fazer avanços. O resultado de quarta-feira é incerto: uma votação preliminar no ano passado foi vencida por uma maioria de apenas oito. E embora alguns políticos nacionalistas reconheçam que a proibição serviria a seus propósitos separatistas mais amplos, eles também insistem que os direitos dos animais se tornaram uma preocupação fundamental. “Isto não é um ataque direto contra a Espanha, mas uma oportunidade de mostrar que nós, catalães, formamos uma sociedade avançada que não acredita mais que colocar um animal para morrer em público é algo aceitável”, diz Josep Rull, legislador do partido catalão Convergência e União, que prevê que a proibição será endossada por uma votação “bastante apertada”. A votação também coincide com um declínio econômico do setor, que depende de subsídios do governo e portanto sofreu com os cortes nos gastos públicos. O impacto foi particularmente sentido em cidades menores, onde os administradores locais endividados tiveram que cancelar touradas, que costumavam ser a peça de resistência de suas festividades anuais, reduzindo o número desses eventos em quase um terço desde 2007. Esta visão é expressa ainda mais fortemente pelos toureiros que balançam as capas em trajes brilhantes cuja popularidade na Espanha pode ser comparada à dos melhores jogadores de futebol. “Somos artistas que tentam se manter totalmente fora da política mas agora estamos sendo usados de forma absurda por políticos para promover a independência da Catalunha”, diz Vicente Barrera, toureiro. “Se o Estado espanhol reconhecer isso como uma arte, a ideia de uma proibição é tão ridícula quanto tentar impedir a pintura porque algumas pessoas não gostam do que é mostrado.” Os criadores, entretanto, não só defendem sua contribuição para a pecuária e a cultura espanhola como também insistem que a Catalunha arrisca-se a prejudicar sua própria causa com uma proibição como esta. Em vez de reforçar o status da região, a “Catalunha se empobreceria culturalmente, quebrando a tradição de séculos na Espanha e se tornaria mais provincial”, de acordo com Samuel Flores Romano, um dos principais proprietários de terras da Espanha e criador de touros. Enquanto isso, o setor já está alertando que tomará medidas legais contra uma possível proibição que segundo eles vai contra direitos básicos – especialmente o direito ao trabalho – garantido pela constituição espanhola, não importa quão grande seja o desejo dos catalães de rejeitar os valores espanhóis. (Com informações de Herald Tribune)
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