"Eu não queria me envolver nisso. Sou apenas um magistrado da roça, um funcionário responsável a serviço do Império, servindo meus dias nesta fronteira preguiçosa, esperando para me aposentar. Recolho o dízimo, os impostos, administro as terras comunais, cuido de que não falte nada para a guarnição, supervisiono os funcionários que temos aqui, fico de olho no comércio, presido o tribunal duas vezes por semana. De resto, vejo o sol nascer e se pôr, como e durmo e estou contente. Quando morrer, espero merecer três linhas em letra miúda na gazeta imperial. Não pedi nada mais que uma vida tranquila em tempos tranquilos.
Mas no ano passado começaram a nos chegar da capital histórias de inquietação entre os bárbaros..."
O trecho acima é parte do livro "À Espera dos Bárbaros" de J. M. Coetzee, leitura altamente recomendável a todos que ainda se interessam por questões éticas e ficam atentos aos delírios de razão do estado, que, para manter o status quo, cria inimigos invisíveis e tenta nos convencer que, em nome do combate a esse "inimigo", tudo é permitido.
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